O que aprendi com o livro "O Seu Filho Precisa de Si" - ideias para as aulas de yoga para crianças
- ana neto
- 15 de ago.
- 3 min de leitura
Recentemente li um livro que me tocou profundamente: "O Seu Filho Precisa de Si", de Gordon Neufeld e Gabor Maté.
Apesar de ser um livro direcionado a pais e mães, senti que muitas das ideias ali partilhadas fazem todo o sentido também para quem trabalha com crianças – especialmente nós, professoras de yoga.
Este livro fala de uma coisa que todas nós já sentimos: há crianças que se ligam a nós facilmente, e outras que parecem mais “fechadas” ou desafiadoras. E, segundo os autores, isso tem muito a ver com a forma como a criança se sente ligada emocionalmente ao adulto que a acompanha.
Deixo aqui algumas ideias que retirei do livro, e que transformaram a forma como olho para o nosso papel nas aulas.
A ligação vem antes da cooperação
No livro, os autores explicam que uma criança só está verdadeiramente disponível para aprender ou colaborar quando sente que está ligada a um adulto que a vê e a valoriza.
Pensa em ti própria: é muito mais fácil confiares e seguires alguém com quem tens uma boa relação, certo? Com as crianças, é igual.
Exemplo prático:
Na aula, em vez de começares logo com as instruções, faz um momento de chegada: olha para cada criança nos olhos, usa o nome dela, pergunta como está. Coisas simples como “Olá, Matilde! Dormiste bem?” ou “Fizeste alguma coisa divertida hoje?” ajudam a criar uma ponte emocional.
Quando os colegas têm mais influência do que os adultos
Uma das ideias mais fortes do livro é que, hoje em dia, muitas crianças estão mais ligadas aos colegas do que aos adultos. Isso chama-se orientação pelos pares — e pode criar desafios.
As crianças que se orientam principalmente pelos colegas:
Ficam mais preocupadas com o que os outros pensam.
Podem ignorar ou desafiar os adultos.
Têm dificuldade em aceitar limites vindos dos professores.
Exemplo prático:
Já te aconteceu uma criança fazer algo perigoso só porque os colegas estão a olhar? Ou recusar-se a participar porque os amigos não querem? Nessas alturas, tenta reconectar com ela: senta-te ao lado, fala num tom calmo e pessoal, propõe uma tarefa a dois. A ligação contigo pode ajudar a quebrar a pressão do grupo.
O comportamento difícil é um pedido de ajuda disfarçado
Uma das frases que sublinhei no livro foi:
“Por detrás de cada comportamento desafiador está uma necessidade emocional não atendida.”
Isto mudou a forma como reajo quando uma criança grita, não quer participar ou interrompe constantemente.
Exemplo prático:
Se uma criança está a falar alto durante o relaxamento, em vez de te deixares irritar, pergunta: “Queres vir aqui sentar-te mais perto de mim?” ou “Estás a precisar de mexer o corpo agora? Queres fazer uma respiração comigo?”
Estás a mostrar que estás disponível — sem julgamentos.
O nosso papel: ser porto seguro
Os autores reforçam que os adultos devem ser figuras de referência emocional, mesmo que estejam pouco tempo com a criança. A boa notícia é que, com pequenos gestos, podemos fazer a diferença.
Exemplo prático:
No final da aula, agradece individualmente a cada criança: “Obrigada por teres vindo hoje, Gonçalo. Gostei muito de praticar contigo.” Estas palavras, ditas com presença, criam raízes.
Em resumo…
Este livro vem confirmar aquilo que todas nós já sabemos mas que nunca é demais lembrar: o que é importante não é a fazermos todas as posturas que planeámos, nem a atividade correr bem — é a relação que criamos com cada criança.
Quando a criança se sente segura connosco, tudo o resto flui com mais naturalidade.
Se também sentes que o teu trabalho é mais do que ensinar yoga — é estar ao serviço da criança como ela é, no momento em que está — então este livro vai tocar-te como me tocou a mim.
Recomendo mesmo a leitura de “O Seu Filho Precisa de Si” — para pais, professores e todos os que cuidam de crianças com o coração aberto.
