Yoga kids: temas de Setembro
- ana neto
- há 2 dias
- 9 min de leitura
Setembro chega com a brisa suave do fim do verão e o começo de um novo ciclo. É um mês de transições, em que nos despedimos dos dias longos e descontraídos e nos preparamos para novas rotinas. A natureza começa a dar os primeiros sinais de mudança, convidando-nos a refletir sobre o que queremos levar connosco para esta nova fase e o que estamos pronto(a)s para deixar ir.
Para as crianças, este é um momento de recomeços, marcado pelo regresso às aprendizagens, aos amigos e às descobertas. Depois da liberdade do verão, é tempo de reencontrar o equilíbrio entre o movimento e a concentração, entre a criatividade e a estrutura. Setembro traz consigo a oportunidade de cultivar hábitos saudáveis, reforçar a confiança e criar um espaço seguro para novas experiências.
Ao longo do mês, vamos explorar temas que nos ajudam a lidar com as mudanças de forma positiva, a fortalecer as nossas raízes e a preparar-nos para os desafios que vêm aí. Com curiosidade e entusiasmo, vamos transformar esta transição numa oportunidade de crescimento e renovação. Estás pronta para abraçar o novo ciclo?
Temas para o mês de Setembro - regresso às aulas
Vamos às atividades e inspiração?
1️⃣ Recomeços e transições
Recomeços e transições fazem parte da vida — são como as marés que vêm e vão, como as estações que mudam, como as folhas que caem para dar lugar a novos brotos. Tu sabes bem: para as crianças, esses momentos de passagem — como o início do ano letivo, uma nova rotina, uma mudança de casa ou mesmo a chegada de um irmão — podem ser emocionalmente intensos. Muitas vezes, ainda não têm as palavras certas para explicar o que sentem… mas o corpo sente: no coração acelerado, no sono que custa a chegar, nos pedidos de colo que aparecem com mais frequência.
Trazer o tema dos recomeços para as tuas aulas de yoga infantil é oferecer-lhes um lugar seguro onde podem sentir, nomear e acolher tudo o que se passa cá dentro. É dizer, com gestos, silêncio e presença, que está tudo certo — que o medo do desconhecido pode caminhar lado a lado com a curiosidade, e que não é preciso perceber tudo de uma vez. O yoga mostra-lhes isso: que mesmo quando tudo muda à volta, há um lugar dentro onde podem pousar.
Para te apoiar neste início de ano letivo, tens o plano de aula das emoções — pensado para ajudar os nossos pequenotes a reconhecer e a expressar o que lhes vai no coração.
Uma das atividades que podes experimentar (inspirada na abordagem Reggio Emilia) é o Mapa dos Recomeços: cada criança desenha ou constrói, com materiais naturais ou reciclados, um caminho que represente uma mudança que esteja a viver. Ao longo do percurso, podem ir colocando símbolos: pedras (desafios), flores (coisas boas que aconteceram), folhas (o que querem deixar para trás), sementes (o que desejam cultivar). É um momento bonito, sensível — e profundamente revelador. Mesmo quando ainda não sabem dizer, encontram forma de mostrar.

Quando trabalhas com recomeços e transições, estás a ensinar-lhes que a mudança não precisa de ser um mar agitado — pode ser um novo rio a nascer. Um rio calmo, cheio de promessas. Estás a semear escuta interior, resiliência e coragem para continuar a crescer… mesmo sem saber exatamente o que vem a seguir.
E no fundo, é isso que fazemos juntas, não é? Somos jardim. Nutrimos, acolhemos, esperamos. Porque todo o recomeço é, antes de tudo, uma semente de esperança.
2️⃣ Curiosidade e descoberta
A curiosidade ilumina o olhar atento, é o brilho que revela cada descoberta feita com o corpo, com os sentidos e com o coração. É a vontade de perguntar “porquê?” e de ir mais fundo — não para chegar rapidamente a uma resposta, mas para saborear o caminho, o processo, a surpresa. No yoga infantil, cultivar a curiosidade é abrir espaço para que a criança seja investigadora de si mesma e do mundo, com presença, escuta e encantamento.
Trabalhar o tema da curiosidade e da descoberta nas aulas é honrar esse impulso natural da infância. É reconhecer que, quando uma criança explora uma nova postura, sente o chão com os pés descalços ou escuta pela primeira vez o silêncio entre duas respirações, está a aprender com o corpo inteiro. A curiosidade desperta a atenção plena, fomenta a autonomia e promove uma aprendizagem viva — uma aprendizagem que não se impõe, mas que se revela, tal como uma flor que desabrocha de dentro para fora.
Nas práticas de yoga, podemos convidar as crianças a serem “exploradoras do corpo”: como seria movimentarmo-nos como cientistas curiosos, a observar cada sensação? Posturas como o gato, o cão a olhar para baixo ou o bebé feliz ganham nova dimensão quando apresentadas como convites à investigação: “O que acontece quando respiro aqui? O que descubro quando mudo de posição?” Podemos também propor visualizações guiadas — como uma viagem interior ao “planeta da imaginação” — ou momentos de silêncio para sentir o que muda quando fechamos os olhos e escutamos por dentro.
Podes propor como atividade a caixa dos mistérios do corpo. Prepara uma pequena caixa (pode ser uma caixa de madeira ou de cartão decorada) e coloca lá dentro pequenos objetos que despertem curiosidade e envolvam diferentes partes do corpo ou sensações: uma pena, uma bola de massagem, um sino, uma fita colorida, uma pequena almofada com cheiro, um espelho, entre outros.
Durante a aula, convida as crianças a explorar a caixa como verdadeiros investigadores: cada criança (ou pequeno grupo) tira um objeto da caixa sem ver, apenas tocando, cheirando ou ouvindo. Em seguida, todos exploram esse objeto com o corpo e a imaginação:– Como o teu corpo se move se fosse uma pena?– Consegues respirar como um sino que vibra lentamente?– Se fosses uma bola de massagem, que partes do corpo precisariam de ti hoje?
Esta atividade estimula os sentidos, promove a atenção plena e convida à escuta interior — transformando a curiosidade numa porta para o autoconhecimento e para a consciência corporal.
3️⃣ Dia Internacional da Paz (21 de Setembro)
O Dia Internacional da Paz, celebrado a 21 de Setembro, é uma oportunidade preciosa para semearmos, com delicadeza e intenção, o valor da paz interior e exterior no coração das crianças. Num mundo que tantas vezes vibra em ruído, pressa e conflito, trazer este tema para o centro da prática de yoga infantil é um convite à escuta, à empatia e ao cultivo de gestos que acalmam — por dentro e por fora. Ao falarmos de paz com as crianças, não falamos apenas da ausência de guerra, mas da presença de respeito, ternura, cuidado e cooperação.
A paz, na infância, nasce nos gestos simples: quando uma criança oferece a mão a outra, quando aprende a nomear o que sente sem magoar, quando descobre que respirar fundo pode ser o primeiro passo para resolver um conflito. Trabalhar este tema nas aulas de yoga é dar-lhes ferramentas para a vida — pequenas sementes de autorregulação, consciência e vínculo com o outro. Podemos convidar as crianças a observar o seu “lago interior”: calmo ou agitado? E, a partir dessa imagem, cultivar práticas que lhes tragam mais clareza, suavidade e presença.
A respiração consciente — suave, profunda, como uma brisa tranquila — ajuda a enraizar esse estado de serenidade. Podemos incluir visualizações guiadas onde cada criança imagina um lugar onde se sente em paz, ou momentos de silêncio em que apenas escutamos o som do próprio coração. Uma prática breve de Metta (meditação da bondade amorosa), adaptada à linguagem das crianças, também pode ser uma forma poderosa de expandir essa paz para o mundo à sua volta.
Uma proposta prática, inspirada na pedagogia Reggio Emilia, é a criação de um Mural da Paz. Convida as crianças a pintar, colar ou desenhar o que a paz significa para elas: pode ser uma cor, uma palavra, um animal, um abraço ou um céu estrelado. Este mural pode crescer ao longo do mês, com contribuições individuais ou em grupo, tornando-se um espelho coletivo daquilo que desejam cultivar no mundo. A partilha oral dos desenhos reforça a escuta ativa e o reconhecimento dos sentimentos.
Celebrar o Dia da Paz não exige grandes cerimónias — apenas a intenção profunda de mostrar às crianças que, mesmo pequenas, têm dentro de si a capacidade de construir um mundo mais gentil.
4️⃣ Dia Mundial da Gratidão (21 de Setembro)
Trabalhar a gratidão nas aulas de yoga infantil é criar espaço para a consciência afetiva e para o reconhecimento do que nos faz bem. A gratidão desenvolve empatia, fortalece a autoestima e ajuda as crianças a sentirem-se parte de algo maior — uma comunidade, uma família, uma rede de afeto. Quando agradecem o sol, uma amizade ou o sabor de um lanche partilhado, estão a desenvolver uma linguagem de cuidado, presença e apreciação. São valores que se enraízam para a vida.
Nas práticas de yoga, podemos integrar a gratidão com posturas como Anjali Mudra (mãos em prece no centro do peito), que simboliza o gesto de agradecer. Podemos explorar respirações que nos conectam ao coração, como inspirar e pensar “estou presente”, expirar e pensar “agradeço”. Uma visualização guiada pode levar cada criança a imaginar uma “luz da gratidão” a crescer dentro do peito — e depois, a enviá-la a alguém especial. O relaxamento pode terminar com uma frase suave: “Hoje, o meu coração está cheio de gratidão.”

Podes também fazer a atividade do Jardim da Gratidão coletivo: em papel kraft ou tecido, as crianças desenham ou colam flores, folhas e frutos onde escrevem ou ilustram algo por que se sentem gratas. Este jardim vai crescendo ao longo da semana, alimentado por gestos e palavras que revelam aquilo que cada criança valoriza. Pode ser acompanhado do Diário da Gratidão, onde cada uma regista — através de palavras, desenhos ou colagens — pequenos tesouros do seu dia. O baralho da gratidão pode servir de inspiração para conversas ou movimentos associados a sentimentos gratos.
Trabalhar a gratidão não é ensinar a dizer “obrigado” por obrigação — é abrir espaço para que o coração reconheça e se encante com a vida. E quando essa semente germina, a criança aprende a viver com mais presença, com mais leveza e com mais amor.
5️⃣ Dia Mundial dos Sonhos (25 de Setembro)
Celebrar o Dia Mundial dos Sonhos nas aulas de yoga infantil é um convite a abrir janelas para o invisível — aquilo que vive dentro do coração, aquilo que ainda não existe mas já mora na imaginação de cada criança. Os sonhos são sementes de esperança, criatividade e coragem. Ao trabalharmos este tema, damos às crianças permissão para imaginar, desejar e acreditar que os seus sonhos são importantes, válidos e possíveis.
Os sonhos têm um valor emocional profundo. Alimentam a autoestima, fortalecem a autonomia e despertam o sentido de propósito.
Em contexto de yoga, podemos trabalhar o tema com práticas suaves que favoreçam o interior — posturas que inspiram leveza como o pássaro, o vento ou a estrela, respirações que acalmam e expandem, visualizações guiadas que as convidem a “visitar” os seus sonhos num lugar seguro dentro de si.
A prática pode incluir um momento de silêncio para ouvir “o que o coração quer dizer”, ou um relaxamento criativo onde cada criança imagina que está a voar com uma asa feita de sonho e outra de coragem. Ao ligar o corpo ao imaginário, criamos uma ponte entre o real e o possível — e é nessa ponte que os sonhos ganham forma e força.
Para quem usa os materiais da Bee Shanti, o plano de aula dos Sonhos é um recurso completo para guiar esta experiência, com sugestões de posturas, jogos e meditações adaptadas.

Trabalhar os sonhos é cultivar o futuro com ternura e presença. É dizer à criança: “Os teus sonhos têm um lugar no mundo — e o teu coração sabe o caminho.”
6️⃣ Dia Mundial do Coração (29 de Setembro)
O Dia Mundial do Coração é uma oportunidade preciosa para levar às crianças uma consciência amorosa sobre o órgão que pulsa a vida — e também sobre o espaço simbólico onde habitam as emoções, os afetos e os gestos de bondade.
O coração é símbolo de conexão: connosco, com os outros e com o mundo. Ensinar as crianças a cuidar do coração — com movimento, alimentação saudável, descanso e afeto — é ensinar autocuidado, empatia e presença.
Mas ao falarmos do coração, não falamos apenas de saúde física, mas também da saúde emocional: como acolher a tristeza, como sentir alegria, como cultivar amor e compaixão no dia a dia.
No tapete de yoga, este tema pode ser explorado através de posturas que ativam a região do peito e convidam à abertura, como a postura do camelo, da ponte ou do coração brilhante (uma variação criativa da postura da criança com as mãos no peito).
Cria momentos de silêncio com a mão sobre o peito para ajudar a reforçar a consciência da pulsação interna, criando um encontro íntimo e poderoso com a vida que pulsa dentro de cada um.
Uma atividade que podes fazer, inspirada na pedagogia Waldorf, é criar com as crianças um “Coração de Tecido” — um pequeno coração de feltro ou pano, recheado com algodão e perfumado com algumas gotas de óleo essencial suave (como lavanda). Enquanto o confeccionam, podem pensar em algo bom que gostariam de guardar ou oferecer a alguém. Este coração pode ser usado durante a meditação ou guardado num lugar especial, como símbolo de afeto, proteção e cuidado.
Falar do coração com crianças é cultivar um território de ternura e verdade. É ajudá-las a reconhecer que o coração é mais do que um músculo — é bússola, é abrigo, é fonte de luz.
Boas aulas, e que Setembro seja um mês de sucesso e muitos sorrisos!
Comentários